O complexo e rico período imediatamente anterior ao surgimento do espiritismo na França foi o cenário escolhido por Mauro Camargo para compor seu novo romance, onde estão presentes, mais do que a minuciosa descrição do ambiente físico e social da época, as correntes do pensamento onde a doutrina espírita irá recrutar seus adeptos: magnetizadores, homeopatas, idealizadores de sociedades utópicas e as multidões simpatizantes dessas propostas revolucionárias naquele momento. Benoît Mure, Hahnemann e Fourier, espíritos cujas comunicações Kardec fez questão de divulgar em seus livros ou na Revista Espírita, e chega a chamá-los de precursores do espiritismo, são os personagens desta obra, surpreendente pela precisão histórica, pela qualidade do texto e pela trama instigante que não nos permite largar o livro antes do final. A homenagem à memória de Charles Fourier era uma grande dívida, finalmente resgatada, do movimento espírita brasileiro a um dos gênios do século 19. Falecido em 1837, Fourier não teve oportunidade de conhecer o espiritismo. No entanto, foi capaz de antecipar pontos fundamentais da nova doutrina, como podemos concluir de suas observações, como: Vêem-se, todos os dias, pessoas irem pedir a caridade à porta dos castelos dos quais foram as proprietárias em suas vidas precedentes. A respeito da mediunidade e do transe mediúnico, disse Fourier: Se tudo está ligado no universo, devem existir os meios de comunicação entre as criaturas do outro mundo e deste. (...) Esta participação não pode ter lugar no estado de vigília, mas somente num estado misto, como o sono ou outro. Didático, O magneto nos transmite lições fundamentais do espiritismo, demonstrando a importância do perdão no progresso das almas e a justiça das leis divinas, que só pode ser plenamente compreendida observando as diversas encarnações do espírito.