A poesia de Néia Gesualdi é dotada de uma singular energia. E parece também movida por essa mesma energia. É esse impulso de base, feminino e jovem, que constitui e expressa a matéria captada nos poemas. Essa energia, insisto, feminina e jovem, institui o olhar do sujeito sobre coisas, objetos, afetos, sentimentos, memórias, família, circunstâncias singelas ou perplexas da infância que se foi ou ainda não se foi de todo, do cotidiano das ruas, das casas, da cidade, e também de intimidades femininas - desnudadas ou veladas -, do ser/estar da mulher no mundo, e metáforas e alumbramentos do amor e da morte. E a poesia brasileira atual, e algo de sua herança, estão atadas no livro? Às vezes a poesia de Néia Gesualdi revela uma experiência cujo chão e cujo movimento desfazem do mundo e do moderno, feito uma borboleta encantada com as cores das próprias asas. Mas há muito substrato rico e energético perpassando os versos. Creio que Néia Gesualdi publica esta "Metamorfose dos mesmos" - título que em seu paradoxo é revelador do livro - como promessa, prometida e comprometida nos poemas melhor realizados, de um percurso no qual a energia singular, que é forte, há de consolidar uma voz nova e original dentre os muitos poetas nossos de hoje. A poesia brasileira precisa disso e temos índices seguros do que certamente virá.