Imagine um fluxo incisivo de pensamento, registro informal, palavras que se empilham lateralmente na página, mas cujo movimento as projeta em várias dimensões. Imagine que se retirou de um texto algo mais que as aparas, não porque não fosse importante, mas para que o que ficasse pudesse pulsar, impulsionando o que não foi incluído. São assim os poemas deste livro original de Leticia Tandeta. O título - Tirem meu nome de mim - já indica o processo de retirada. E o que será que fica quando tanto se apaga? Palavras ordinárias, pouco pontuadas, que ladeadas se acrescentam, como sugere o poema cotidiano que diz: meu amor dorme do meu lado ouvindo minha respiração/entupida de receios angústias cheques sem fundo/meu amor escolhido meu eleito/sua mão encosta na minha seu nome encosta no meu. Ampliadas por releituras saborosas, aprofundadas por cada nova visita, essas pequenas narrativas compõem um volume de extrema graça que revela um trabalho de sonoridades, de conferir um tom às vezes agoniado e sempre intensamente vivido ao que de outro modo seria um amontoado de meias palavras. Leticia tem experiência em produção de vídeo e tv e em artes plásticas, e esta é sua estreia em poesia. Seu trabalho poético constrói espaços com elementos que são retomados de formas inspiradas ao longo deste volume. Objetos se distendem, carregados na enxurrada que saiu levando tudo. Ouvimos ruídos de temporais, ecos da vida carioca, corpos suados e quartos abafados. Objetos se tocam plasticamente, como sapatos velhos prematuros, evocando um contato visual transcendente. Há momentos de cortes tocantes, como em velho/take me home/saudade dos mortos, ponto. E momentos que quase definem a experiência que é ler e retornar a Tirem meu nome de mim, em parceria com a voz que a cria - deitada aqui no sofá com o estranho exuberante mar em/cima de mim. Lucia Leão.