Gritei, e pulei da cama como se não fosse aquele velho sem forças, e o desgosto já não tivesse me matando, e pudesse aguentar aquele cheiro de ausência em minhas entranhas, e sair a saltitar, menino serelepe, nas brincadeiras – que a memória é mortal quando se perde uma mulher e não se sabia dizer quem era quem – do tempo de juventude, e na juventude do tempo da velhice, e na vida. Tudo correndo sem pausa. E eu pensei que fosse Ana. Corri para acender a luz, na incerteza da minha própria existência, mas a realidade esbofeteou meu rosto. A dor que não passara mostrava-se no espelho, quando, passando por ele o olhei, lugar de esconderijo dela, e fui fisgado. Quase riu de mim. Muita crueldade para um velho. Voltei para a cama com dores nas juntas, peso nas costas, medo nos olhos e uma ausência terrível dentro de mim. Materializada pelo vazio da cama. Chorei. Trecho do conto (Tiraram-me de mim)