O presente livro, de autoria de Luís Panke, é também uma fonte histórica. Trata-se de uma memória e não de história propriamente dita. A reconstrução historiográfica do passado exige a observância de métodos, certa distância do pesquisador em relação ao seu objeto e uma pretensa cientificidade para estabelecer ou restabelecer verdades históricas. Ou seja, a história é produzida pelos historiadores a partir de fontes as mais diversas resultando em versões sobre o passado elaboradas a partir de uma teoria e de um conjunto de conceitos. A memória, por outro lado, constitui-se de lembranças seletivas não somente de um passado vivido, mas também de um passado apreendido. Através da memória reconstrói-se o passado com o auxílio de dados emprestados pelo presente do memorialista. Ela é, por isso mesmo, dinâmica, pois muda e evolui de época para época. Mas a memória também se alimenta de reconstruções realizadas em épocas anteriores à do memorialista, quando a imagem do outrora já se manifestava mais ou menos alterada em relação aos acontecimentos realmente verificados. Diz-se, por isso, que a memória é coletiva e não individual.