Sade, n'Os 120 Dias de Sodoma, porventura a sua melhor obra, prova ser, no estilo, na alegria, na violência das paixões, um dos mais subversivos escritores de sempre. As verdades amargas e sardónicas, reveladas na viagem ao fim da noite do ser humano, constituem um absoluto fora do qual não existe realidade. O valor supremo de Sade reside na capacidade de nos perturbar ao longo de quase 600 páginas dos cento e vinte dias, conduzindo-nos à consciência de si. Trata-se, segundo o autor, «da narração mais impura que já se fez desde que o mundo é mundo». Sade detém-se a contemplar imagens do pecado e de actos libidinosos e proibidos, visando a sondagem de um mistério que os homens e as mulheres inacessivelmente encerram. A Antígona, que publicou anteriormente A Verdade (livro que inclui, para além do poema, quase todos os textos de Sade contra Deus) e a Filosofia na Alcova, tenciona dar continuidade a tão actual autor.