Houve um tempo em que eu lia os poemas de Eliza como se eles fossem pequenos romances, caçando personagens, tramas, enredos. Quase vinte anos depois, descubro que, enquanto eu caçava a história, Eliza sempre caçou o poema: essa coisa imensa. Na sua poesia, a palavra é um animal que dorme com fome. A partir desses objetos vibráteis, ela cria uma composição extraordinariamente complexa, feita de materiais heterogêneos e dispersos: os dias, os pés, a escrita, a cidade, o amor, a eletricidade, a família, a fumaça, os dentes, a casa, os pratos, a comida, o cachorro, alguém, um trovão. Gosto de pensar que Eliza escreve o paradoxo. Nos seus poemas, esse procedimento pode ser observado no ponto exato onde os contrários se tocam. Escrever o paradoxo é habitar a linguagem de outro modo, trocando as coisas de lugar, desencaixando palavra e sentido, expectativa e intenção. Nessa artesania com as palavras, Eliza produz a rachadura necessária. Talvez a essência do paradoxo seja provocar (...)