Antes o chão eram folhas, fezes e purpúreas escaras de fim de feira. O chão e suas artérias eram antes palavras, expressão acústica de guetos, becos, fossos, latitudes perdidas onde a cidade rasteja ao rés do piche. Depois este chão betuminoso refez-se na expressão fotográfica, na imagem visual em que formas, cores e traços revelam com outros olhos a mesma cidade. Nesse deserto urbano promove-se o encontro de linguagens tão contrárias e tão afins: o poema em palavras de Rendrik e o poema em fotos de Maycon, que, unos, completam-se na exclusão da cidade. Ao levantar os olhos do chão, deparamos com portas, trancas, correntes e cadeados, janelas, cal e cores esmaecidas, universo desolado e ferruginoso que mapeia um novo conjunto de fotos. A partir dessa matéria visual, o encontro inverte-se: os poemas de Rendrik geram-se das imagens de Maycon, mas a junção mantém-se. Afinal, fotografar o poema ou poetizar a fotografia correspondem à mesma destinação poética, a de constantemente ressignificar o mundo.