Segundo Freud, a religião é fundada sobre um parricídio: da morte do macho alfa primordial, e da culpa originária dessa morte, é que nasce a religião. Na literatura não é muito diferente. Segundo Harold Bloom, em A angústia da influência, uma nova geração literária precisa matar simbolicamente a velha, sobretudo no nome de seus principais representantes. Na história literária brasileira, Coelho Neto e Olavo Bilac foram os alvos dos modernistas de 22, os modernistas de 22 foram os alvos da Geração de 45 que, por sua vez, foi o alvo dos concretistas. É como uma quadrilha de necrológios. Aqui, na terra das araucárias, não foi muito diferente. Em 1946, quando surge um jovem talentoso e querendo botar banca, quem ele elege para ser sacrificado no altar da renovação literária? Emiliano Perneta, o outrora príncipe dos poetas paranaenses. O jovem em questão é Dalton Trevisan, que mais tarde, já contista consagrado, será objeto da iconoclastia de um poeta que então surgia: Paulo Leminski.