"kORI BOLIVIA cumpre sua trajetória de poeta com um lirismo que é mais nosso do que dela. Ela encarna uma condição humana que é vertida na linguagem da contensão mas sem limites, ou seja, sua capacidade de ser uma e múltipla, de expressar brechtianamente pelo outro que, no entender de Mário de Andrade (""sou trezentos"") está em nós. Explicando melhor: é contida, sem excessos verbais, mas sua voz ecoa além da linearidade do texto, por alcançar-nos no que temos de comum e universal. Acompanho a caminhada dela entre nós. Veio da Bolívia, vive conosco em Brasília e conseguiu falar a nossa língua melhor do que nós, sem sotaque, cristalina como a voz que soa nos Andes na cimeira do mundo. E sua poesia verte nas línguas que domina, pois a língua é a forma de nossa expressão e a poesia é a fôrma em que ela consegue representarnos, enquanto expressa os próprios sentimentos e visões do mundo. Mundo mundo vasto mundo ... já dizia Drummond de Andrade. Mas cabe reconhecer uma certa estranheza dela, alguma nostalgia, um certo sentimento contido. ""Um labirinto de sonhos despertos"", ""solidão irredutível"", ""em íntimo sofrimento"". ""Infinita voz, infinita"". Vê-Ia sempre sorrindo, com uma delicadeza ""exquisita"" no sentido de cordial, no original castelhano, não configura sua angústia existencial, que é também nossa. Como são nossos, agora, os versos de ""O orvalho de tua voz"", referindo a nós. "