Ao submeter-se a uma comunidade totalitária - na igreja ou na empresa - normalmente sob a bênção de uma liderança carismática, tanto o crente fundamentalista quanto o convertido à religião do trabalho aceitam e se integram em plenitude à verdade do pensamento único, das doutrinas, dos dogmas e dos fetiches que amalgamam o cotidiano de suas vidas. O fanático fundamentalista dispõe-se ao sacrifício de sua própria vida para obter no paraíso a compensação pelo sofrimento de sua imolação. O convertido às seitas organizacionais busca, pela integração irrestrita ao trabalho, uma vida de felicidade aqui na terra; ao viver para o trabalho deixa de desfrutar de todas as demais dimensões existenciais que a vida proporciona. Tanto o membro de uma seita fundamentalista fanática quanto o da religiosidade do mundo corporativo compartilham de uma cultura totalitária que os empobrece como pessoas. Um, pelo martírio físico que vai até a aniquilação da própria vida. O outro, pelo esvaziamento existencial de seu "eu" como ser humano, mesmo dispondo de todos os confortos e facilidades propiciados pelas empresas, que ao outro - o religioso fanático - são negadas em razão do próprio credo e pela sua opção de busca da felicidade somente na vida celestial. As organizações do mundo corporativo se transformam em seitas como estratégias ardilosas para o aumento desmesurado de sua produtividade, garantindo maiores ganhos aos acionistas, a nova aristocracia social do século XX.