A música rege cada palavra de “Todas as manhãs do mundo”, de Pascal Guinard. E o espírito barroco, com seus claros/escuros, dá forma à história do encontro entre o mestre apolíneo e o discípulo dionisíaco, que se irmanam na busca da essência da música. De um lado, a disciplina e a morbidez, de outro a voluptuosidade e o gosto pela vida mundana, com suas glórias e as riquezas. Estamos em 1650. Época de Luís XIV, com suas perucas barrocas e rostos empoados. O senhor de Sainte Colombe, o maior violista da França, sofre uma grande perda e se afasta do mundo, isolando-se numa cabana nos jardins de sua propriedade nos arredores de Paris. Seu único prazer é a viola da gamba, que revoluciona, acrescentando mais uma corda ao instrumento e mudando até a forma de segurá-lo. A viola, parente próxima do violoncelo, era então o instrumento predileto das cortes francesas e inglesas. Depois de insistentemente desprezar os convites para se unir aos músicos da corte, o virtuose aceita apenas um discípulo, um filho de sapateiro chamado Maran Marais, que acabaria aclamado como um gênio renovador da viola da gamba. Este livro é o responsável pela redescoberta do barroco na Europa.