Ah, quem me dera ser um tipo engraçado mesmo. Não engraçadinho, que por aí tem tantos. Queria ser um pândego autêntico. Teria sempre, de cabeça, um relato cheio de graça, jamais de gracinha, para sacar no instante preciso, desarmando interlocutores cheios de ódio, desconhecidos travados de fúria, rivais tomados de ira partindo um contra o outro. No segundo que antecede uma briga de bar, lá estaria eu, enfiado entre os valentões irascíveis. Implacável, eu gritaria um chiste saboroso, simples, e confusão nenhuma iria para a frente, porque todos cairiam numa gargalhada irresistível, profunda, demorada. E ao fim todos desabaríamos em descabido estado de festa, unidos, leves, reconciliados com a graça da vida. Essa vida espantosa, sublime, que tanta gente tenta fazer ordinária e vil.