Neste livro, Paulo Silvino Ribeiro nos convida a refletir sobre as relações entre as ciências naturais e as ciências sociais através do engajamento de um conjunto de médicos na fundação da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, em 1933. A partir do estudo de suas trajetórias e, em particular, da prática docente de alguns desses médicos, o autor enfatiza o papel da instituição na legitimação de um saber médico voltado à coletividade, bem como no credenciamento dos professores para o exercício de funções técnicas e políticas no âmbito da administração pública. Ao mesmo tempo, a institucionalização dos saberes médicos por meio de uma escola de sociologia e política inaugura uma posição no campo dos estudos sociais em São Paulo: a da ciência social aplicada e orientada à resolução de problemas sociais contemporâneos. Para essa empreitada, o autor mostra que foi necessário mobilizar um conjunto de saberes a fim de articular, de maneira inédita, a relação entre indivíduo e sociedade – saberes naturalistas, provenientes da medicina fisiológica e patológica, bem como sociais, inspirados na psicologia social e na sociologia estadunidense. Nos anos 1930, indica o autor, as iniciativas desses médicos vão ao encontro das reformas empreendidas em âmbito estatal no sentido de instituir um conjunto de direitos sociais, cujo atendimento demandava técnicos e profissionais formados em ciências aplicadas, entre as quais a medicina social ou a saúde pública. Ao mesmo tempo, sob o pano de fundo dos processos de industrialização e de urbanização da sociedade brasileira, o autor indica que tais iniciativas fizeram parte de um conjunto mais amplo de ações empreendidas pelas elites econômicas locais, interessadas na formação de quadros técnicos e administrativos para a indústria paulista. Assim, conclui-se que a Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo não apenas ocupou uma posição central nas trajetórias desses médicos, mas também na vida política e econômica paulista e nacional.