Com dívidas da ordem de R$ 5 bilhões e alvo de uma CPI na Assembleia Legislativa sobre as suas contas, a Companhia Energética de Goiás (Celg) passa pelo pior momento de sua história de pouco mais de meio século. A gravidade da crise é comprovada pelo fato de que, desde 2006, a empresa é impedida de reajustar suas tarifas de eletricidade, devido à inadimplência no recolhimento de encargos setoriais. Escrito por Salatiel Pedrosa Soares Correia, Setor Elétrico Brasileiro - uma falência mais do que anunciada: o caso da Celg e outros escritos ajuda a entender todo o processo que levou a maior estatal goiana à situação atual. Com uma abordagem crítica e objetiva, o autor conta como a privatização da hidrelétrica Cachoeira Dourada, o dispendioso programa de eletrificação rural e a desestruturada política de incentivo à irrigação em Goiás provocaram o empobrecimento de uma das empresas mais tradicionais do setor elétrico brasileiro. A partir de uma coletânea de artigos publicados no jornal Diário da Manhã, de 1994 a 2010, o livro explica porque empresas elétricas estatais de Minas Gerais e Paraná tiveram caminho inverso ao da Celg. Enquanto Cemig e Copel ampliaram seu valor de mercado e hoje possuem investimentos fora de seus estados de origem, a companhia goiana se vê às voltas com a negociação de venda de parte de seu capital para a Eletrobras. Engenheiro eletricista, administrador de empresas e mestre em Planejamento Energético, Correia amplia o foco e dedica um capítulo com artigos sobre a problemática do setor elétrico brasileiro. Já em 1997, ele comentava a questão do racionamento de energia que, infelizmente, viria acometer o país quatro anos depois. O autor também não foge a temas atuais como a expansão da oferta de etanol, a retomada da energia nuclear e a importância da implementação de medidas de eficiência energética. Preocupado com o desenvolvimento do estado de Goiás, em outra parte da obra, o autor busca saídas para elevar a qualidade de vida e a economia da região Centro-Oeste, por meio da educação e da industrialização. Ele atenta para o efeito distorcido provocado pela revolução industrial no Brasil, que criou dois mundos antagônicos: o primeiro desenvolvido e industrializado no Sul e Sudeste. O segundo, muito mais populoso, subdesenvolvido, centrado na agricultura e pecuária, que convive com desnutrição, desemprego e analfabetismo entre seus habitantes. Através da leitura do conjunto de textos é possível concluir que, tanto para a economia do país quanto para o setor elétrico, vale a mesma máxima: Não há desenvolvimento sem planejamento a longo prazo. Voltada não apenas para especialistas e profissionais do setor elétrico, a obra é leitura indispensável para quem busca informações sobre a história econômica de Goiás e do Brasil. O livro contempla ainda 17 ilustrações do cartunista Nei Lima, que dão um toque sutil aos comentários do autor.