"Belo Horizonte nasce como o sonho de uma ordem, que, como nos lembra Ángel Rama, vai encontrar nas terras do Novo Continente o único lugar propício para encarnar: da remodelação de Tenochtitlan, após sua destruição por Cortés, em 1521, até a inauguração, em 1960, de Brasília, ‘o mais fabuloso sonho de urbe de que foram capazes os americanos’, o nosso continente tem sido pródigo em cidades sonhadas. Sonho do século XIX, Belo Horizonte corporifica-se, no entanto, quando esse chega a seu fim: sua cenografia urbana, seu traçado de malhas superpostas, sua toponímia republicana vão assistir à passagem do século XX, que rapidamente remodela o espaço sonhado por Araão Reis. Essa transformação é tão profunda que, hoje, quase só a ‘permanência do plano’ - traída inesperadamente pela vista privilegiada de alguma esquina - aparece como testemunha daquela cidade construída num planalto poeirento, sobre os escombros do arraial do Curral d´El-Rei. Belo Horizonte nasce moderna e, como tal, infiel a si mesma. Contar a história da arquitetura dessa cidade é, portanto, falar da história da sua produção continuada, das modernidades em sucessão que vão marcando o seu território."