A queda do muro de Berlim, o fim do comunismo, a exacerbação dos conflitos étnicos na Europa deste fim de século reavivaram terríveis fantasmas e sentimentos primitivos do ódio e terror. Em Cães negros, Ian McEwan usa a imagem da queda do muro que separava o mundo capitalista do comunista, como pano de fundo para uma história de amor mal resolvido. O que está em jogo é menos o casamento desfeito de June e Bernard e mais a dissociação, causada pela guerra, do espírito humano. Simbolicamente, June ficou com a face mística e Bernard, com a racionalista. Um casal que nunca mais conseguiu viver junto e nunca deixou de se amar. Velhos, ela à beira da morte, resolvem enfrentar os velhos fantasmas ao revelar a um quase estranho, suas próprias versões para o incidente que os separou.