“Sacher-Masoch é um escritor que faz do suspense a mola romanesca em estado puro, quase insuportável”, segundo Giles Deleuze. Autor de inúmeras novelas, romances e peças de teatro, sua duvidosa reputação se deve quase que exclusivamente ao livro Vênus das peles, cuja heroína sádica termina por “atrair”, na vida real, uma singular mulher para o não menos incomum universo da celebridade literária de Sacher-Masoch. Imoral? Doente? Onde situar esse homem que alguns consideram como precursor dos escritores da Viena de 1900, como Hofmannsthal e, particularmente, da geração de Musil e Kafka? A biografia de Bernard Michel vem fornecer dados e ampliar a discussão em torno desse nome tão controvertido. O próprio Sacher-Masoch protestou, na época, contra o significado de “masoquista”, incorporado ao vocabulário da psicopatologia sexual por influência do psiquiatra Richard von Krafft-Ebing. Ele se recusava totalmente a encarnar o papel de pervertido vilão e descarado libertino, que desejavam lhe impor.