Platão escreveu certa vez que a origem é a mais perfeita de todas as coisas naturais e humanas. Antes de surgir o universo, as estrelas, o sistema solar, a Terra e o homem, havia o nada. Mas por que o nada não continuou "existindo"? Ou, ao contrário, o que teria provocado o surgimento da matéria e, em seguida, da vida? Num outro estágio, o da civilização humana, o que motivou a criação das matemáticas, da filosofia e das artes em geral - música, arquitetura, pintura, literatura? Qual, enfim, o sentido da criação? Com questionamentos instigantes assim e que fazem pensar, o conceituado teórico franco-americano George Steiner reflete intensamente, em Gramáticas da criação, sobre o conceito de criação no pensamento ocidental, na literatura, na religião e na história. O livro chega ao Brasil pela Editora Globo e é considerado a obra mais radical de um dos mais sofisticados e respeitados ensaístas e críticos literários da atualidade. Steiner, hoje com 74 anos, faz uma reflexão sobre as diferentes maneiras por meio das quais se fala da criação e qual o seu sentido. Discute o "cansaço fundamental" que atravessa o espírito humano de fim de milênio e a gramática em mutação das discussões sobre o fim da cultura e da arte ocidentais. Suas indagações incluem o significado da criação, em última instância, e de que modo esse processo na arte pode se comparar à formação do mundo. "Nossa natureza é dominada por uma sede enorme de explicações e de causalidade. O tempo todo queremos sempre saber: por quê? Que hipótese concebível pode elucidar uma fenomenologia determinada, uma estrutura da experiência vivida tão difusa e variada em suas expressões como a da 'terminalidade'?", observa.