O luteranismo surge no século XVI na Alemanha tendo como um dos seus sinais diacríticos a ênfase numa educação plural e democrática. Este cuidado com a educação estava intimamente ligado a sua fé, porque ensinavam que os crentes deveriam ler os livros sagrados como forma de fortalecimento de sua crença. Para tanto, traduzem a Bíblia para o vernáculo e pregam a necessidade e importância dos filhos irem às escolas. Com o cuidado pelo ensino, especialmente dos seus, atravessa o oceano e acompanha os imigrantes teuto-luteranos que aportam no Brasil no século XIX. Em razão disto, estes criam escolas ao lado de seus templos, as quais tinham também o caráter formador e mantenedor da identidade etnorreligiosa deste grupo social. Agora, no início do século XXI, as escolas luteranas estudadas (situadas na região metropolitana de Porto Alegre), ligadas à Igreja Evangélica Luterana do Brasil, apresentam um declínio dos valores que orientavam os primeiros teuto-luteranos que criaram as mesmas. Ocorrem novos arranjos identitários, numa transculturação, onde a confessionalidade que lhes fora cara deixa de ser o traço mais importante. Verifica-se que houve a escolha de novos traços com os quais pretendem ser reconhecidos e manterem-se identitariamente ligados às escolas que carregam o codinome luterano. Este livro debruça-se sobre as questões identitárias envolvidas neste processo a partir de uma abordagem socioantropológica, visando compreender as tensões que se estabelecem neste jogo.