O leitor de Dias de Colecionar Borboletas vai certamente se sentir refém do poder de suas imagens poéticas. Diante da intensidade dessa experiência, somos levados a respeitar as formulações encontradas. O modo como os sentimentos humanos são capturados por José Carlos Honório, nos faz reconhecer: é isso mesmo ... É essa a definição de um grande poeta. Esse colecionador de borboletas no coloca em jardins com margaridas, aves azuis, louva-deuses, ervas frescas e melancias verdes. Porém, nada é ingênuo, é uma natureza quase pagã. Ao mesmo tempo em que "é dia claro e o chamamento por deus é inevitável", nos deparamos com um deus que refaz suas malas e não dá repostas, sacristia sem hóstia e dia de procissão com respeito a santos e a humanos. É nessa relação paradoxal que borboletas são dócil e perversamente aprisionadas. Quando este poeta diz que a palavra é perigosa, se faz pintor, que escolhe em sua paleta os "tons verdes da relva" e o mais branco dos brancos para a xícara onde vai para repousar o chá de seu amor. São olhos de um poeta habituado a se apropriar do mundo pela visualidade, como uma "fotografia mal- tirada de crianças que choram". E neste mesmo ambiente, declara: "humildemente aceito que seu amor é o barro que a vida ainda me esculpe". Se nos colocarmos disponíveis para uma profunda imersão nesse universo passional, vamos viver um ardente diálogo de corpos que se desejam e se perdem: "Eu dentro, você dentro. E mão da vida por perto". Porém, em muitos momentos, é um corpo sofridamente ausente: "corpo que espero dentro, esse corpo distante". Este seu amor, que exerce um magnetismo desesperador, não está lá, mas seu corpo mais que tudo o espera. E o sofrimento se traduz na simples e dolorosa necessidade de dizer, "preciso que você precise de mim". Dor que, por vezes, ganha um tom irônico, como quando afirma, "e você que não duvide da possibilidade de me amar", ou uma matiz jocosa: "é simples viver sem você, porém desnecessário". Essa busca irrefreável do outro, em muitos momentos, mais parece procura de si mesmo: "sei que falarei quem sou quando eu descobrir isso" e "talvez te ame pelo o que aprendi de mim enquanto te esperei". O poeta se pergunta: será que a vida se basta em desejos? Mas, mesmo assim, enriquece seus rituais com vermelhas, pretas, verdes escuras, cores fortes de velas para que o desejo seja mais do que satisfeito. Em meio à liturgia do desejo, há belas oferendas de amor: "prometo que te compro confetes". De dentro desses mesmos corpos, surge um amor que também é uma forma de dizer vale a pena. E assim conhecemos aquilo que esse livro um dia foi: poemas insanos para o homem que amo. Cecilia Almeida SallesA obra apresenta - Margaridas frias repousadas em meu peito arfante; Habitar seu corpo como peregrino faminto; Talvez os tempos sejam outros; Poucas expressões valem tanto; Talvez coração cromado; Despe-me com tuas mãos lentas; Águas negras que encharcam; A infância da vida - mentiras; Esfriou e o céu está azul; A carcaça do prédio quase construído me afirma; Fotografia mal tirada de crianças que choram; Primeiro que olho; Cinco e meio é número exato; Acuado, que eu te proponha trégua; As flores estão colocadas; Teus olhos pedintes me dizem o óbvio; Sem seus passos próximos; Mesmo que breve e inconstante; O ritual que se completa; Prometo que te compro confetes; Vai que a vida é isso mesmo; Como a mata, diariamente; entre outras poesias.A obra apresenta - Margaridas frias repousadas em meu peito arfante; Habitar seu corpo como peregrino faminto; Talvez os tempos sejam outros; Poucas expressões valem tanto; Talvez coração cromado; Despe-me com tuas mãos lentas; Águas negras que encharcam; A infância da vida - mentiras; Esfriou e o céu está azul; A carcaça do prédio quase construído me afirma; Fotografia mal tirada de crianças que choram; Primeiro que olho; Cinco e meio é número exato; Acuado, que eu te proponha trégua; As flores estão colocadas; Teus olhos pedintes me dizem o óbvio; Sem seus passos próximos; Mesmo que breve e inconstante; O ritual que se completa; Prometo que te compro confetes; Vai que a vida é isso mesmo; Como a mata, diariamente; entre outras poesias.