Desde a entrada, o livro de Fernanda Comenda pede orelhas atentas; não só à sua pulsação, mas ao breve silêncio que intercala sístole e diástole a estrutura do livro remete ao ciclo cardíaco. Como sintetiza um dos poemas: não escrever linha alguma/que seja menos/que um silêncio. E, contudo, se escreve. Afinal, esse imperativo de mudez não resulta numa poética do silêncio. Antes, a voz inquieta da autora se vale da falsa transparência da linguagem para insinuar outros sentidos por baixo da superfície. É uma poética da insinuação que diz (e muito) sem dizer. Muitas vezes, as relações afetivas aparecem configuradas por elementos domésticos, dispostos em ordem regular, como os tacos do piso no início do poema maneiras de dizer que você veio: três na vertical três na horizontal alternados três na vertical três na horizontal alternados dois na vertical É de se notar que, apesar da quebra de alternância, o padrão rítmico no último verso se mantém. Uma (...)