Os desenvolvimentos das ciências da vida e da tecnociência têm abalado nossos modos radicionais de entender e representar a condição humana. Estamos atordoados neste tempo em que "a ciência refaz o corpo" (para aproveitar a expressão de Jean-Pierre Lebrun neste livro). Seus inúmeros impactos e desafios afetam diretamente nosso cotidiano e afetam os saberes instituídos na medicina, no direito, na filosofia, na psicanálise, nas ciências humanas e sociais. Por outro lado, estamos em meio a um momento histórico de refazimento dos laços sociais: esgarçam-se as bases dos laços tradicionais, desestabilizam-se nossas antigas referências, mas são ainda nebulosas as novas bases, os novos laços, as novas referências. Em conseqüência, tornou-se aguda a percepção do tamanho do nosso desamparo, tão presente em situações de abandono, de falta de reconhecimento, de violências dissimuladas e transparentes.