Assim como a história concebida por Benjamin não é uma sucessão ininterrupta de acontecimentos, inscrevendo-se mais no tempo dos calendários do que no dos relógios, a filiação, tal como pensada por Mosès, Trigano ou Rosenzweig, também não é sucessão automática em que o filho apenas repete a experiência do pai, mas diz respeito ao tempo das gerações, tempo descontínuo no qual vêm se introduzir a morte e o novo. A tradição, a cada vez, corre o risco de morrer, e a palavra, de emudecer: é nesse hiato, nessa possibilidade da morte, do esquecimento e do silêncio que nascem tanto a possibilidade de uma fala como de uma memória. Portanto, tanto uma história lisa e sem fraturas quanto uma tradição sem interrupções e perigos são "armadilhas" do conformismo: a primeira porque escreve a história dos vencedores e a segunda porque se afasta do tempo e da história para criar verdades eternas e imutáveis. A ênfase na renovação não significa, de modo nenhum, recusa da tradição, mas uma nova concepção de tradição, que inclui o esquecimento e a fragilidade da narrativa e que precisa, hoje, de uma escuta mais atenta e tenaz. Assim como Benjamin queria escrever uma outra história, que pudesse "salvar" o passado, parece também ser possível libertar a tradição, inscrevendo nela novas possibilidades, novos significados colocados pelo "tempo de agora". Tradição e renovação não mais se excluem.