São Paulo, 2019. Preocupada com a perda progressiva da memória, uma mulher se esforça para reordenar lembranças das figuras que moldaram sua identidade: a mãe, o pai, o irmão e aquelas outras, as empregadas, que acompanharam a história da família por trás de uma barreira invisível e cada vez mais frágil. O que é uma casa de família? Mais do que o sobrado em São Paulo que abriga o típico arranjo patriarcal da classe média brasileira, a expressão se refere aos locais aonde mulheres de todos os cantos do país, mas sobretudo do Nordeste, vão trabalhar como domésticas, babás, cuidadoras. Quando Soraia começa a registrar suas recordações, com a aproximação da meia-idade e percebendo as imagens de sua infância se embaralharem na mente, são as vozes dessas mulheres que insistem em ecoar --aquelas que chegavam e partiam de sua casa em fluxo ininterrupto desde que a mãe ficou acamada por uma doença degenerativa. Somando a elas as memórias do pai, em suas jornadas para fechar as contas, (...)