A Prosa do Poeta para Poucos... Queria Leon Zeitel permanecer "engavetado", quando não mais percorria corredores "engravatado" e mesmo sabendo que seus "gravetos" constituíram "o nada que é o útero do tudo". Saber e sabor têm, em latim, a mesma etimologia, como aponta Roland Barthes. Essa é apenas uma parte de sua prosa poética. A outra, sem sabor mas profundo saber, é a linguagem, pois ele sabe que ela se esgota na mensagem e provoca ressonância muito além do que é dito. A prosa poética de Leon Zeitel mantém uma singela ligação com o poeta Manoel de Barros. Este transforma o cisco em Catedral e aquele faz o contrário ao sugerir a derrubada dos "Arcos do Triunfo" e falar com a "epiderme versos perfeitos", mesmo olhando no espelho e duvidando. A "Porta", o emblemático poema, "abre para dentro" como que buscando preces na alma porque estreitaram tanto a Terra que não há lugar para o Sagrado e aí é preciso que cada um faça o seu "primeiro céu numa folha de papel". Os densos poemas de Leon Zeitel nos perpassam um gosto amargo de ver como as pedras dos caminhos são colocadas, mas também não deixam de apontar a suavidade existente nas cores do Arco-Iris e declarar-se "rico em perplexidades" ou como poetizava Leminski "só dúvidas continuam de pé". Com a sabedoria dos que atingiram a simplicidade sugere "que se danem os fanáticos", "que se perdoem os poetas da presunção". Eu, apenas leitor das gavetas do poeta, testemunho a força, a beleza dos achados verbais e o fio.