Concentradas neste título O Discurso da Poesia Concreta, três figuras de linguagem, a saber: ambiguidade, oximoro e ironia, prenunciam os múltiplos sentidos das questões suscitadas por este livro assim intitulado. Neste título, é ambíguo se a locução adjetiva da Poesia Concreta é genitivus subjetivus ou genitivus objetivus: Poesia Concreta é o sujeito que faz o Discurso, ou é o objeto a respeito de que o Discurso discorre? Na primeira hipótese, de Poesia Concreta ser o sujeito que faz o Discurso, temos um oximoro, isto é, uma unidade feita de dois termos contrários e excludentes, pois a Poesia Concreta é programaticamente antidiscursiva, icônica, visual, simultânea, e imputar-lhe um Discurso é contrariar o que o seu programa se propõe. Na segunda hipótese, de Poesia Concreta ser o objeto explicado por este Discurso, instala-se uma terrível ironia, pois o Discurso que se faz a respeito da Poesia Concreta neste livro é o discurso científico, isto é, um discurso essencialmente e rigorosamente abstrato, teorético e conceitual. A ironia reside em que o discurso deste livro, originalmente uma tese de Livre Docência, é de leitura surpreendentemente fluente e claro, imediatamente compreensível e convincente na apresentação que faz do sentido do poema concreto. Mas o poema concreto já não mais tem esse sentido imediatamente claro e convincente em sua linguagem naturalmente icônica e simultânea, mas, sim, na linguagem teórica e conceitual do discurso científico.