Seria preciso que um animal pulasse desse pedaço de papel que tão curiosamente chamamos orelha, qualquer animal escorpião, homem, coisa para apresentar brevemente esta obra. Porque nela a palavra salta, roça e fratura a folha com precisão metálica, para atingir corpo e mundo em gesto firme, sem desperdício. Em seu primeiro livro, Thiago Grisolia já mostra o fôlego e o punho de um grande poeta. Desses capazes de trazer lirismo, lucidez política e fervor erótico. Tudo junto. Triturado pelas pás da poesia até chegar ao fundo sórdido no qual, menos que homem (muito menos) e menos que bicho (e no presente), algo de nós grita e chama e é belo. Por isso, neste bestiário da fauna do presente, a palavra assume-se política ao mesmo tempo em que se revela sexual. Lasciva e elegante a um só tempo, ela quase me penetra, fazendo-me vibrar nas cordas tensas que lança sobre a cidade. [...]