Quando a política estava na ordem do dia, uma mulher nem nova nem velha sai de casa para ir à praia. À luz clara da manhã, rememora a sua vida. «O que poderá ter para mim ainda um sentido?», interroga-se, na viagem de eléctrico que a leva de Leça ao mercado de Matosinhos. Aí um vendedor apregoa por um funil de lata um xarope para todos os males. No regresso, a nortada da tarde vai desagregando a seus olhos a limpidez que a manhã revelara no mar, nas ruas e nas gentes. Outras impressões e devaneios infrutíferos a acompanham. Fantasia-se a viajar aos confins do universo, correndo risco de vida, para levar consigo esta pergunta: «por que motivo os seres humanos se brutalizam uns aos outros?» Conto de recorte autobiográfico, ou alegoria sobre a acção humana no mundo, A Mulher do Chapéu de Palha constrói uma perturbadora imagem da dilaceração do sujeito.