No primeiro capítulo de Sara sob céu escuro, o debate promovido em torno de Lírica e lugar comum - um embate aberto pelo corpo e pelo espaço dos personagens - não situa apenas uma problemática de gêneros. Capaz de rever "o pathos da distância" entre homem e a sociedade (p. 2), o livro não manifesta tão somente a busca da linguagem da poesia como "expressão de motivações e experiências individuais" (ibid.). Pulsa ao longo do texto uma poética do romance expandido, explodido desde o ticket-cut-up de W. S. Burroughs (como se dá na trilogia The Ticket that exploded, The Soft Machine e Nova Express) até a escrita cyber, de Gibson a Colson Whitehead, passando pela inscrição-tattoo presente nos romances eróticos de Kathy Acker. É sob o toque de uma atualização do narrativo, lançado a quadraturas espaciais e conceituais dilatadas, que o mais novo escrito de A. V. S. Pietroforte se move.