Jean Luc Nancy diz, no seu 58 indícios sobre o corpo, entre outras coisas, que o corpo é material. É denso; que até o vazio é uma espécie muito sutil de corpo e ainda que o corpo é uma prisão ou um deus. Não tem metade. Recorro a essas imagens talhadas pelo filósofo francês para falar da poesia de Eliza Caetano, uma poesia que se ancora no corpo, nos vestígios materiais que este deixa à sua passagem, nos afetos e afecções, desassossegos que traz consigo ou transmite como herança. É nesse sentido que a poética de Eliza, neste livro de estreia, parece se direcionar; na construção, ou antes, no desvelamento de um corpo denso e luminoso, que convida a compor o vazio com os fragmentos que deixa à mesa como peças de um quebra cabeças, uma divindade em seus humores, desejos, ausências e incompletudes. A anca, os ombros pesados, os pés perfurados delineiam um corpo feminino dolorido, mas ainda assim insubmisso. [...]