Algo errado deu certo: as palavras encontraram-se num campo de batalha onde se fizeram aliadas, mesmo que o combate seja inevitável: lutam entre a tristeza e a alegria. Leio-as como se as ouvisse. No recorte destes poemas encontro o autor e quero pôr-me na sua cabeça: O meu lugar no mundo sou eu. Hellington ocupa a geografia afectiva de ser neto de Ana Okarenko, filha de refugiados ucranianos. O livro, sem saber ainda que tinha nascido, partiu da guerra, e os poemas alinharam-se entre a dor e a certeza que tantas vezes a tristeza nos dá, de estarmos vivos. É tão forte essa certeza que às vezes chegamos à alegria. É assim este livro, um semáforo que ora nos faz avançar, ora nos detém para pousarmos sobre palavras tão simples e, ao mesmo tempo, tão certeiras. É a tristeza que nos empurra para a lucidez. São palavras disparadas do coração que ocupam agora estas páginas. Neste semáforo de poemas algo errado deu certo. Avanço sem medo para a travessia. (...)