O jogo de linguagem que nomeia o livro de estreia de Roberta Freire irradia sentido para muitos lados, para além de servir como definição dessa poesia ou convite ao segredo contado em quase outra língua. É que a consoante p, que organiza o jogo de deformação das palavras, é pronunciada como um antibeijo, um beijo que, em vez de sugar o ar atritando-o entre os lábios, sopra-o numa breve pancada depois de mantê-los, os lábios, colados. O ruído dessa consoante atrapalhando a decifração das palavras aproxima-se, então, estranhamente do toque, do beijo, do encontro. É na contradição entre o que se fala e o que não se entende, o que se mostra, mas não retorna o segredo já conhecido, que os poemas de Roberta Freire se escrevem. O texto elabora a diferença, depois dos encontros, das relações, da caminhada, oferecendo frase e vocabulário ao que parece lateral, latente, mesmo perigoso a um mundo estranho: a feminilidade, o erotismo, a escuta. [...]