Desde os inícios da humanidade que o homem, na esteira de Caim, se tornou assassino do seu irmão. As ofensas físicas, afectivas, intelectuais, morais e espirituais dividem os homens, as famílias e as nações. Quando uma ofensa intervém, seja ela individual, colectiva, voluntária ou involuntária, ela cria uma situação nova, altera uma relação entre o que ofende e o que é ofendido. E a situação só pode ser sanada mediante o perdão. Mas quando o mal atinge um certo grau de gravidade, quando a vítima inocente já não existe, o perdão, já tão difícil na vida quotidiana, torna-se humanamente impossível. Não há resposta fácil à questão das ofensas irreparáveis, imperdoáveis. Ela coloca-se a todos, crentes e descrentes. Então como justificar seriamente a exigência cristã de exercer o perdão: "Felizes os misericordiosos, eles obterão misericórdia"? É a primeira vez que a ofensa sem perdão, já em jogo no pensamento contemporâneo há meio século, é assim encarada em toda a sua amplitude e à luz do mistério cristão. O Padre Jean Laffitte oferece-nos, aqui, uma obra magnífica, uma referência na biblioteca de cada um, crente ou não. "O Perdão Transfigurado" é um livro fundamental, muito mais num tempo em que o perdão parece ser mais um valor esquecido, destituído de sentido. Uma obra que não se lê sem se sentir profundamente transformado. JEAN LAFFITTE, sacerdote da diocese de Autun e membro da comunidade de Emmanuel, exerceu durante vários anos o seu ministério como superior dos capelães de Paray-le-Nonial. Doutor em Teologia Moral, é, desde 1994, professor de Ética no Instituto João Paulo II, em Roma. É autor de obras fundamentais.