A questão agrária é histórica no Brasil, envolvendo, anualmente, mais de meio milhão de pessoas em conflitos com centenas de mortos. Esse flagelo se deve à ausência de reforma agrária e de políticas agrícolas oficiais que se organizam mais no interesse da produção capitalista do que no apoio aos pequenos produtores e à agricultura familiar que abastecem majoritariamente o mercado interno. A assim chamada reforma agrária de mercado impede sistematicamente a função social da propriedade. Tal situação opressiva abre espaço para uma nova forma de exploração e violência ainda mais perversa: o narcoagronegócio. Tema conhecido pela imprensa mas pouco estudado, recebe agora por Koinonia, com a colaboração do Núcleo de Referência Agrária - Observa-tório Fundiário Fluminense, da Universidade Federal Fluminense, um tratamento altamente competente. Os pesquisadores que unem seriedade acadêmica com o contato direto com esta anti-realidade e com empenho ético-político, nos oferecem um quadro alarmante e objetivo desse capitalismo do ilícito. O volume de dinheiro movimentado faz com que pertença ao agronegócio, não obstante seu caráter criminoso. A massa camponesa se vê duplamente oprimida: pela superexploração dos ligados à narcoplanta e pelo fato de se verem transformados em agentes do crime e, por isso, diretamente, submetidos à repressão dura do Estado. Essas e outras articulações do tema são analisadas com acuidade e pertinência pelo presente trabalho, enriquecido pela contribuição de um especialista colombiano, Santiago Villaveces, sugerindo alternativas aos camponeses, impedindo assim que o Brasil se torne uma reprodução da Colômbia.