Entrei ali como havia chegado ao mundo. E enquanto toda aquela água morna caía sobre minha cabeça, braços, pernas e pés, sentia que uma outra de mim escorria pelo ralo. Ia embora para morrer nas entranhas da terra. Eu não era mais Sula. Ficara uma outra. Agora eu era Índia. Lembrei-me, nesse momento, olhando para mim no espelho, que meu pai havia me dito que minha vó era índia. Disse ainda que eu tinha todos os traços dela: os olhos, o nariz, a cor da pele, os cabelos de graúna, a estatura, a voz, tudo, até o jeito de andar. Então, de alguma forma, eu a via em mim. Não, eu não a conheci. Meu pai disse que ela morreu quando ele era ainda um rapazote com uma baladeira no bolso. Mas eu sabia que era um pouco dela ali, da mesma forma que, algumas vezes, encontramos o sorriso de um pai ou de uma mãe no rosto de um dos filhos. Eu via o fogo do qual a minha pequena chama havia se desprendido. Via meu povo, minha aldeia, meu chão.