Inaugurando a obra poética de Sérgio Nazar David, Onze moedas de chumbo mostra o início de um percurso que culminou na singular estética e estilo que caracterizam sua escrita. Uma estética carregada de sensualidade, desejo e errância, que investiga a potência do corpo, desencontros com a linguagem, em fragmentos narrativos. Além de Tercetos Queimados (2014), a 7Letras traz às mãos do leitor A primeira pedra (2006, 2014), e Onze moedas de chumbo (2001, 2014), reunindo toda a obra poética do autor, reeditada agora num novo projeto gráfico. A obra reunida dá dimensão e sublinha a importância do lugar ocupado por Nazar David na poesia publicada atualmente no Brasil. Resenhas Para quem acompanha a trajetória poética de Sérgio Nazar David, ler ou reler este Onze moedas de chumbo significa deparar-se com o momento inicial de um esforço consistente de construção de singularidade, passando por A primeira pedra, de 2006, chegando aos Tercetos queimados, que a 7Letras lança agora em 2014, junto com as reedições dos livros anteriores. Onze moedas de chumbo teve sua primeira edição em 2001. Embora não tivesse sido livro de estreia (que foi O romance do corpo, de 1997), encontramos aqui, ao lado do brilho de uma descoberta dando certo, marcas de caminhos temáticos e estéticos que seriam depois percorridos. O lugar poético de Sérgio Nazar David esteve entre os que mais me interessaram na virada dos anos 00, pela afinidade com estes poemas carregados de uma sensualidade de rua, hotéis baratos, errância de encontros na madrugada. Temos aqui uma persona poética de jovem maturando, acossada pela "força bruta" do corpo, mas também aberta para um fora que, já não sendo corpo, imprime-se dentro dele como fator constitutivo. Destaque para a figura paterna e para as evocações de infância - polos externos que levam o corpo para longe de si, ao encontro da linguagem, da poesia. A carga erótica está menos na expressão do desejo que na memória dos encontros, em mínimos fragmentos narrativos. Onze moedas de chumbo é trabalho rigoroso, organizado em torno de um jogo constante entre dentro e fora. O bom leitor vai desejar relê-lo várias vezes no conjunto, para surpreender as muitas conexões de sentido (e portanto de emoção) que compõem seu sistema léxico, seus enredados fios condutores: grumos de sentido. Chamo de grumos porque tais conexões são contrabalançadas por desconexões: entre palavras, entre versos, entre estrofes, denotando uma vontade de desconstituição da forma, de deslizamentos do sujeito e do próprio discurso. Nestes poemas, o desejo e a poesia estão sempre noutro lugar: algum lugar ou desvão. Daí a imperfeição ter neles presença garantida e calculada, reforçada ainda pela alta taxa de coloquialismo na linguagem. Italo Moriconi