O interesse pelos arquivos - suas configurações, seus usos e significados - e pelas histórias que neles se inscrevem - nem sempre visíveis, mas fundamentais para sua compreensão como produtos socioculturais, instrumentos políticos e artefatos dotados de valor simbólico em torno dos quais projetos se estruturam e grupos se articulam - deve ter sido o motor da produção desta 'descrição densa' do arquivo Darcy Ribeiro. Ao ser associado ao 'legado' memorial de seu titular, um legado que o arquivo deve documentar - ou seja, que deve 'refletir' e 'atestar' -, diversos sentidos lhe são conferidos seja pelos gestores desse legado, seja por seus usuários, perdendo-se de vista uma dimensão importante que tem sido discutida em relação a outros universos documentais, e que, no caso dos arquivos pessoais, pode ser resumida nesta formulação - o arquivo preserva e, ao mesmo tempo, institui e alimenta o legado.