Nascido em 1920, graduado em direito no Brasil em 1943, doutorado em economia na França em 1948, Celso Furtado foi o mais brilhante pensador brasileiro da geração que fundou o pensamento econômico latino-americano contemporâneo. Quando era jovem, ainda predominava entre nós a economia clássica inglesa, que oferecia os argumentos teóricos para a perpetuação da nossa condição primário-exportadora: o Brasil devia continuar especializado em atividades nas quais era mais eficiente - a agricultura e a mineração - e respeitar uma divisão internacional do trabalho em que as atividades industriais se desenvolviam fora de seu espaço econômico. Furtado e outros de sua geração enfrentaram o desafio teórico de propor uma nova interpretação da economia internacional e o desafio político de alterar estruturas em nosso país. Não lhes faltou ousadia. Contrariando o saber dominante, afirmaram que o subdesenvolvimento não era uma fase histórica comum a todos os países, mas sim uma condição específica de uma parte do sistema capitalista. A formação de economias industriais no centro do sistema e de economias subdesenvolvidas na periferia eram aspectos de um mesmo processo. Entregue ao predomínio de forças espontâneas, essa divisão tendia a se reproduzir, aprofundando a distância que separava países e regiões. Em vez de seguir os sinais de mercado, tratava-se, pois, de produzir mutações. A principal delas era a industrialização. Mas a industrialização periférica não poderia repetir a trajetória já conhecida. Era um processo novo, sem precedentes e problemático. Seria realizada em meio a crônica crise cambial e sob tensões inflacionárias, com planejamento e indução do Estado. Em 1961, no auge desse debate, Celso Furtado publicou Desenvolvimento e subdesenvolvimento, "um apanhado crítico e uma reformulação e ampliação de tudo que escrevi relacionado com teoria econômica no último decênio". Como mostra Rosa Freire d’Aguiar Furtado na Apresentação desta edição [...]