História, crítica, diálogo, Kiryrí Rendáua Toribóca Opé é um ensaio do poeta e jornalista Ronaldo Werneck sobre o cineasta Humberto Mauro (1897-1983), considerado o pai do cinema brasileiro. Diz Werneck, que conviveu durante certo tempo com Mauro: este livro é uma forma de juntar num só volume tudo o que escrevi (e falei) sobre Humberto Mauro. E ainda abrir um diálogo com os livros de Alex Viany, André Andries, Glauber Rocha, Paulo Emílio Salles Gomes e Sheila Schvarzman, fundamentais para a compreensão da obra do cineasta mineiro. Mais uma tentativa de dar um plano geral sobre o seu mundo aqueles long-shots de que Mauro tanto gostava. O livro de Werneck abre também espaço para o rico acervo iconográfico existente sobre Mauro e suas ligações com o cinema brasileiro, com registros de grandes fotógrafos como seu filho, Zequinha Mauro, além de Edgar Brasil, Paula Gaitán, Ronaldo Theobald, Walter Carvalho e muitos outros. E foca ainda a estrelinha de Cataguases, Eva Nil, sob as lentes de seu pai, o fotógrafo Pedro Comello, além de dedicar duas de suas sequências para a produtora e estrelíssima Carmen Santos. Kiryrí Rendáua Toribóca Opé, lugar de calma e sossego no Rancho Alegre é o que dizia a placa em frente à casa do cineasta mineiro Humberto Mauro. A placa, em tupi-guarani, encontra-se também estampada na capa do livro, que fala sobre seu mundo e sua trajetória. Editado pela Arte Paubrasil, a obra resulta de um projeto aprovado pelo Programa Filme em Minas e tem o patrocínio da Cemig, sob os auspícios da Lei de Mecenato do Ministério da Cultura - MinC. Humberto Mauro nasceu na fazenda São Sebastião, arredores de Volta Grande, Zona da Mata mineira, na madrugada de 30 de abril de 1897. Nos anos 1910, os Mauro chegam à cidade de Cataguases, onde Humberto iria viver nos 20 anos seguintes. A partir de 1925, e até 1930, ele faz da cidade um grande estúdio cinematográfico, com a criação da produtora Phebo Brasil Film, e ali realiza quatro longa-metragens, que ficaram conhecidos na história do cinema brasileiro como o Ciclo de Cataguases. Na década seguinte, Mauro segue para o Rio de Janeiro, onde vai trabalhar com Adhemar Gonzaga na Cinédia (ali realiza sua obra-prima, Ganga Bruta, de 1933) e dirige vários filmes para a atriz-produtora Carmen Santos; entre eles, Argila, de 1942. Mas é durante sua passagem pelo Ince, o Instituto Nacional de Cinema Educativo desde sua criação, em 1936, até sua aposentadoria, 1964 que Humberto Mauro vai se reencontrar com suas raízes rurais e mapear o Brasil profundo. Nesta fase, realiza mais de 300 documentários englobando a flora, a fauna, aspectos sanitários, históricos, geográficos, grandes vultos, escritores, compositores, e vários outros temas da brasilidade. Em 1952, em Volta Grande, dirige e atua em seu último longa-metragem, O Canto da Saudade. Em 1964, realiza talvez o que seria o seu melhor documentário, A Velha a Fiar. O cineasta morre em Volta Grande, no dia 4 de novembro de 1983. Qual um documentarista, montando sua obra em sequências, Ronaldo Werneck dá voz a inúmeros testemunhos que enlaçam diferentes épocas e aspectos da obra de Humberto Mauro, além do próprio diretor em diferentes depoimentos, escreve a historiadora Sheila Scharvzman no prefácio do livro. Esse resgate de Werneck torna públicos documentos, entrevistas, reportagens e um rico acervo fotográfico que registra importantes momentos da vida de Mauro e da história do cinema brasileiro. Kiryrí não é uma biografia, nem pretende ser, diz Ronaldo Werneck. É a mesma história, são as mesmas histórias de Humberto Mauro que se repetem sob diferentes ângulos. Exatamente (ou não) como ele me contou. Para mim e para vários daqueles que ouviam com grande prazer suas histórias de cinema.