Tendo em conta o tema da homossexualidade na literatura moderna do princípio do século, surpreende a perspectiva de Forster, o caráter radical do seu enfoque. Em sua narrativa não encontrarmos as saídas mais corriqueiras em torno do tema. A experiência vivida por seus personagens não se consuma em algum tipo de sublimação, ou na condenação de suas condutas, mediante alguma conclusão trágica. Pelo contrário, Maurice é um romance que aponta para um final feliz. E de uma felicidade perene, pois fica implícito que Maurice e seu companheiro talvez vivam daí para a frente juntos e monogamicamente. Ao mesmo tempo, Forster enfrenta outros valores poderosos da sociedade, como o religioso, e sua opção é clara, atirando os jovens do romance definitivamente no ateísmo sem culpas. Outra audácia sua talvez seja o modo como toca numa das aporias centrais na história da afetividade até hoje: a diferença de classes entre os envolvidos como fator de impossibilidade de realização do amor. Temática corriqueira na literatura amorosa e chave fundamental para a interpretação de seus outros romances, ela é projetada em Maurice no âmbito de relações entre pessoas do mesmo sexo. A paixão de Maurice por Scudder, um ''simples'' guarda-caças de seu amigo Clive, consolida uma aliança que transcende suas diferenças sociais