Abordando o tema das identidades e diferenças, o autor do presente livro busca compreender as interações entre membros de duas comunidades rurais vizinhas no Oeste paranaense. Partindo da perspectiva teórica dos estudos culturais sobre identidade, atenta para o fato de que as interações ocorrem nas fronteiras entre os grupos onde se afirmam as identidades contrastivas do "nós" perante os "outros". Contudo, investiga os processos, enfatizando que a oposição identitária não é rígida, focando nos fluxos sociais que atravessam tais fronteiras em um mundo rural dinâmico, composto por diferentes grupos sociais. A análise crítica da história regional revelou o contexto em que os atores sociais emergiram e atuaram uns frente aos outros no passado e como se movimenta o atual jogo das identidades. Ao analisar as relações identitárias entre colonos e assentados, o ethos de trabalho se traduz em referencial principal para orientar os modelos ideais de pessoa do lugar, que mesmo com identidades específicas, não elimina a referência a uma ética do trabalho familiar na terra, de forma relativamente autônoma, que tem como parâmetro os colonos "fortes". A inserção social dos que lutam pela terra, naquele cenário perpassa não só a ascensão a condição social de assentado, mas o desejo de continuarem nos lotes e serem reconhecidos como "fortes". Tais construções sociais reveladas nesse estudo trouxeram a percepção de que no decorrer da busca pela terra, ou para se manter na mesma, as relações sociais ali processadas envolvem não somente reciprocidades, solidariedades, mas também conflitos, disputas por recursos públicos, por legitimidade perante o Estado e a sociedade mais ampla. Além de interferirem em aspectos econômicos e políticos dos municípios de que fazem parte, os assentamentos redefinem dinâmicas sócio-culturais, gerando impactos e sendo impactados pelas coletividades locais, com os quais interagem socialmente, (re) produzindo identidades e diferenças cotidianamente.