A paixão de um homem por livros raros e manuscritos literários é o fio condutor de Sobretudo de Proust, de Lorenza Foschini. A autora retrata um personagem real, o francês Jacques Guérin, magnata dos perfumes que era obcecado pelo trabalho do escritor Marcel Proust. Lorenza, que é jornalista, decidiu escrever a história depois de entrevistar o figurinista italiano Piero Tosi, que conheceu Guérin durante uma viagem a Paris cujo objetivo era pesquisar lugares e eventuais locações para um filme do diretor Luchino Visconti baseado no livro Em busca do tempo perdido, de Proust. Filho de Jeanne-Louise Guérin, uma corajosa mulher de negócios que era amante das artes e frequentava o ambiente dos artistas, Jacques sempre deixou claro que sua verdadeira paixão eram os livros raros e manuscritos, embora se dedicasse com sucesso à indústria de perfumes da família. Ele rejeitava o rótulo de bibliófilo e tinha orgulho de suas aquisições, como a edição original do Hérésiarquede Apollinaire, comprada quando tinha somente 18 anos. Com o passar do tempo, Guérin se torna um homem fascinante, requintado e culto. Em 1929, o acaso coloca Jacques Guérin em contato com a família de Marcel Proust: ao passar mal durante o verão, ele é operado pelo cirurgião Robert, irmão do escritor. Fã de Proust desde os 20 anos, Jacques se encanta ao visitar o médico e descobrir, intactas, a escrivaninha e a estante que pertenceram a Marcel, bem como diversos cadernos manuscritos que trazem a obra completa de seu antigo dono. Após a morte de Robert, o colecionador compra os dois móveis, que mais tarde doaria ao Museu Carnavalet. Com a morte do médico, Marthe Dubois-Amiot, sua viúva, é obrigada a deixar o apartamento onde moravam. Para se livrar do que achava inútil, ela manda queimar uma série de cadernos e papéis que pertenceram a Marcel Proust. Tanto ela quanto Robert achavam que certos textos do parente famoso, bem como sua homossexualidade e o desprezo pela respeitabilidade burguesa, eram motivo de vergonha para a família. Por isso, destruíram boa parte do material deixado pelo escritor antes de morrer. Felizmente, Guérin conseguiu salvar algumas coisas, entre cadernos, objetos pessoais e o famoso sobretudo que acompanhou Proust durante seus últimos anos. Graças a Jacques Guérin, parte da memória de Marcel Proust foi preservada. Fotos, cartas, desenhos, bilhetes, rascunhos e versões de obras como Em busca do tempo perdido chegaram ao século XXI e podem ser admirados por quem lhes dá valor. Por mais de meio século, Jacques manteve escondidos seus tesouros. Morto em 6 de agosto de 2000, ele começou a vender sua extraordinária coleção oito anos antes. Uma réplica do quarto de Marcel Proust, com móveis e objetos doados por Guérin, pode ser vista no Museu Carnavalet, com a mesma arrumação que tinham no apartamento onde o escritor passou seus últimos anos. O emblemático sobretudo, entretanto, não está em condições de ser exposto e permanece guardado em uma caixa.Em "Sobretudo de Proust", Lorenza Foschini conta a história de uma obsessão e reúne diversos personagens inspirados ou atormentados por Marcel Proust e sua escrita, evocando a sociedade parisiense do início do século XX.