A partir do estudo das dinâmicas inerentes à economia informal e aos bairros periféricos de Buenos Aires, com marcante presença de migrantes bolivianos, a pensadora argentina Verónica Gago debate neste livro o enraizamento do neoliberalismo nas subjetividades populares e sua persistência na América Latina. A razão neoliberal mostra que o neoliberalismo não ficou nos anos 1990, como sugeria a retórica dos governos progressistas. Uma maior intervenção do Estado na economia não necessariamente se opõe ao neoliberalismo. A fórmula Estado versus mercado simplifica tanto o papel do estado no neoliberalismo quanto a própria noção de mercado, explica a autora. O neoliberalismo não vem apenas ‘de cima para baixo’, mas lê e captura tramas vitais que produzem valor, inventando recursos onde não há, repondo infraestrutura popular diante do despojo e criando modos de vida que excedem as fronteiras do capital. Por isso, Verónica Gago propõe o conceito de neoliberalismo desde baixo, uma vez que o sistema conseguiu redefinir-se a partir dos territórios onde se cozinharam as revoltas antineoliberais da virada do século. A razão neoliberal explica como a articulação entre os governos progressistas os movimentos sociais e a financeirização da vida popular formou uma paisagem em que a produção de direitos e a inclusão social se realiza através da mediação financeira e do consumo. Esses processos são fundamentais para entender a ‘guinada à direita’ na região e o modo como se articularam neodesenvolvimentismo e neoextrativismo, relançando a acumulação de capital por meio da inserção subordinada de nossos países no mercado global.