A nova utopia de Bonvicino traz, com cruel detalhamento, o cenário atual urbano desolador. Há cimento, asfalto, meios-fios, vielas, ratos, urubus, lixo, bueiros entupidos, baratas, neons apagados, carros, chuva, crack, há marquises como abrigos. As cores são cinzentas e o cheiro é de detritos, urina e fezes. O requinte do capital, representado aqui e ali por vitrines de lojas, faz um contraponto fugaz, esmagado imediatamente pelo todo. Não há saída utópica e não há lenitivo para desesperança, muito menos algo novo em que se possa agarrar em fuga da miséria humana. "A qualidade da poesia, por si mesma, é extraordinária eis o que precisa ser dito, antes de mais nada."