E literariamente isso é um fato: pelo menos a partir da pena criadora de Assis Brasil. O escritor resolveu reunir, em um só volume, todas as suas histórias que se passam ou a partir de no seu Estado natal. Exceção, é claro, de sua Tetralogia piauiense, um monobloco estético que destaca os romances, Beira Rio Beira Vida, A filha do Meio Quilo, O Salto do Cavalo Cobridor e Pacamão. Poucos dos textos do conjunto, agora dado a público, têm apenas referências regionais, embora o ser piauiense esteja de corpo inteiro e tudo naquele apelo de Tolstoi, que disse, entre outras coisas, que a literatura quanto mais regional, mais universal, sintetizando tal ideia no aforismo de significação tão profunda: retrata a tua província que serás universal. Embora Assis Brasil, no começo de sua carreira literária, tenha sofrido preconceitos e discriminação por ter nascido no Piauí (Parnaíba) considerado o Estado mais pobre da Federação, o que não é verdade ele sempre exaltou a sua terra. Amor, dedicação, respeito e um lastro relevante de admiração traduzido na sua obra incomum. O outro lado de sua criação é o estético ? complemento existencial/social o dual e o dialético, na motivação de mostrar a condição humana nas suas perplexidades dramáticas e trágicas. Assim, o lado propriamente estético da criação de Assis Brasil abre um largo leque na área da técnica narrativa, o que já vinha mostrando desde 1965 com a premiação e a edição de seu romance Beira Rio Beira Vida, com a repetição do importante Prêmio Walmap, em 1975, com Os que Bebem com os Cães. Nesse hiato de dez anos 1965/1975 ele só fez foi aprimorar a sua técnica narrativa, tanto com a conclusão de sua Tetralogia piauiense quanto com a publicação das novelas que o autor chama de fábulas O Livro de Judas (1970) e Ulisses, o Sacrifício dos Mortos (1970), elevando a crítica este último à categoria de um poema em prosa. Ainda nesse período intervalar, Assis Brasil publicou o extraordinário romance A Volta do Herói, de 1974, que se passa no Ceará, a segunda fonte inspiradora de sua literatura. E tudo isso entremeado por ensaios exegéticos e crítica literária sobre alguns dos seus melhores ficcionista, tais como: Graciliano Ramos, Adonias Filho, João Guimarães Rosa, Clarice Lispector (1969) e ainda sobre o poeta Carlos Drummond de Andrade (1971). E não podemos esquecer o ensaio sobre Joyce, o romance como forma (1971). Deste já logo aprendizado, sempre o outro de sua criação, ou seja, o seu comprometimento com o social, arraigado permanentemente com o mais profundo do ser. Assim é que este A Chave do Amor e Outras Histórias Piauienses mostra um Assis Brasil completo, em pleno domínio do seu importante trabalho para a literatura brasileira. Estas são narrativas, podemos dizer exemplares, editadas ao longo de sua carreira, e com algumas inéditas, no bloco que leva o título geral de Novas histórias do rio encantado, quando Assis Brasil volta à sua terra natal, no mesmo cenário do seu romance Beira Rio Beira Vida. Novelas, narrativas curtas, uma verdadeira amostragem do como fazer, do como criar ficção com o seu lado emblemático, emotivo, dramático e por vezes trágico em suma, uma humanidade comovente.