A poética de Eustáquio Gorgone de Oliveira apresenta, com evidência, aspectos marcados pela tradição do barroco mineiro. Nesse sentido, a referência ao mundo distorcido remete às figuras do Alejadinho e às tensões manifestas pela estética barroca. O sentimento que perpessa o livro, intermitência de prazer e dor, luz e sombra, provoca no leitor encantamento e espanto e se abre para um interessante leitura fenomenológica para a qual este prefácio serve apenas como porta de entrada. Se passarmos por essa porta, descobriremos que a obscuridade luminosa desses versos ("a vista não alcança/ a luz interior", poema 24) nos conduz à experiência dos místicos, na qual as visões do outro mundo se dão junto com o sangramento do corpo, como lemos no poema 11: "alguém tece o destino/ nos corpos que desfiam / sangue após o corte."