O mundo se surpreende com a aparição de um movimento formado em sua maioria por indígenas do sul do país, auto-intitulado Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), em homenagem ao líder da revolução mexicana Emiliano Zapata. As causas de sua insubordinação são as históricas formas de exclusão e pobreza a que é submetida a população indígena e a ausência de democracia que penaliza o conjunto da sociedade mexicana. O porta-voz do EZLN é o hoje internacional "subcomandante" Marcos, expressão da unidade dos sete grandes grupos étnicos descendentes dos maias. Substituindo o conflito armado pelo enfrentamento eletrônico, os zapatistas fazem das "palavras andantes" sua arma principal. São esses os textos reproduzidos neste livro - cartas e comunicados assinados pelo líder zapatista, quase todos acrescidos de linguagem sincrética que une, numa original e erudita forma literária, as culturas indígenas com o imaginário e as aspirações de todos os mexicanos e de todos aqueles que no mundo buscam democracia, igualdade e justiça. "[...] De onde menos se espera, explode uma rebelião que clama por dignidade. Nas montanhas do Chiapas, por exemplo. Por muito tempo calaram-se os indígenas maias. A cultura maia é uma cultura de paciência, que sabe esperar. Agora, quantas pessoas falam por essas bocas? Os zapatistas estão em Chiapas e estão em todas as partes. São poucos, mas têm muitos embaixadores espontâneos. Como ninguém os nomeou embaixadores, ninguém pode destituí-los. Como nada lhes é pago, ninguém pode contá-los. Nem comprá-los."