Se propõe a analisar o fenômeno das torcidas organizadas no contexto social brasileiro, assim como o envolvimento de tais grupos em episódios de violência e a resposta social, das autoridades públicas de do corpo midiático a tais eventos na construção de uma política de segurança pública. Para tanto, faz-se uma abordagem a partir do paradigma da criminologia cultural. Esta se notabiliza pela presença de relevante dimensão cultural na observação do crime e seu controle. Desenvolve-se no contexto da modernidade recente, marcada pela fragmentação social e um contínuo processo de exclusão. O crime é observado em sua fenomenologia, com a compreensão das sensações e emoções que fazem a experiência criminosa tão atrativa a seus praticantes, procura-se problematizar a representação do crime pela mídia, com a consequente formação de loops e espirais de significados. Fazendo uso dos conceitos trazidos pela criminologia cultural, e tomando em conta a complexa realidade das torcidas, partese para uma causalidade dos atos de violência a partir dois caminhos. No primeiro, a violência é interpretada pelo prazer e excitação que gera nos indivíduos que a vivenciam; paralelamente, não obstante, a violência também pode ser visualizada como ato comunicativo. É percebido, ainda, que a constatação de um grande número de casos de violência envolvendo confrontos entre torcidas organizadas, e que geram acentuada quantidade de mortes, acarreta em intensa reação por parte da mídia, gerando um pânico moral, e que se perfectibiliza em um processo de marginalização da subcultura desviante. Como resposta a essa ameaça à sociedade, uma política repressora é posta em prática, mas que culmina por agravar a situação, em uma espécie de espiral de amplificação do desvio. Ressaltase, enfim, na necessidade de novas abordagens para a problemática da violência no futebol, com a superação de um modelo repressivo instaurado e adoção de práticas de resolução pacífica de conflitos.