A atmosfera noturna dá à história da autora franco-senegalesa Marie NDiaye, vencedora do Goncourt de 2009, um caráter sombrio e misterioso. O sincretismo de NDiaye ecoa em seu texto, mescla de metáforas dos contos de fada tradicionais e de elementos da literatura antilhana. No livro, uma diaba sai todas as noites da floresta à procura de sua filha que desapareceu misteriosamente, junto com a casa onde moravam. Foi quando a diaba percebeu também que seus delicados pés haviam se transformado em cascos de cabra deformidade que causa repulsa nas pessoas. A ambiguidade da personagem alegoria da noite, de face graciosa, olhos doces, mas com cascos no lugar dos pés, suscita no leitor alguma hesitação e muitos questionamentos. Um livro enigmático que nos convida a refletir sobre como o afeto é capaz de humanizar até a aparentemente mais aterrorizante criatura e sobre a importância de se respeitar as diferenças, visíveis e invisíveis.